sábado, 28 de abril de 2012

Do Novo



Do novo
                   Andrea Cristina Lopes


Quisera rumar meus olhos
Meus sonhos a todo instante
Para onde constante me chame
O sussurro suave da canção.


Quisera que o amor,
Embora, o mesmo, fosse novo
E a todo novo dia ter
A alma mais jovem.


Assim, aos olhos 
Seria então distante
... toda e qualquer ...
Réstia de sofreguidão.


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Até o infinito



Até o infinito...

♥♪ ⊱✿◕‿◕✿⊰♪♥ ♥♪ ⊱✿◕‿◕✿⊰♪♥

E de repente
uma dor estranha
se faz tão presente no ar.

...e, só há um lugar para onde ir...

É um lugar de magia presente
onde a música dizia
tudo que se quereria falar.

O dia em que o infinito se deu...


Andrea Cristina Lopes


♥♪ ⊱✿◕‿◕✿⊰♪♥♥♪ ⊱✿◕‿◕✿⊰♪♥


domingo, 22 de abril de 2012

Pensamentos



Pensamentos 

                     Andrea Cristina Lopes


Quem é você, quem sou eu?
profusão de sons que se aprofundam 
quase a um toque do vento
numa clareira de lua
nítida e longuincua
na calma da noite adentro...


E quem são os de sóis, 
quem são os  de momentos, 
alegria em sobrevoo a meus olhos
nuança  de um sol inteiro
que se dista e logo vai
dissolvido no tempo...


Quem é você, quem sou eu?
que mesmo quando não somos, 
somos tanto e nos queremos 
de formas sempre tão iguais...


Quem sou eu, quem é você 
nesse dia que termina voraz
de tênue luz, total de azul
onde as cruzes de estrelas 
a cada momento só brilham mais...


- olhos que olham-
almas que esperam
noite que cala lábios 
e encerram os sonhos.




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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Um dia para a partida, um dia para a chegada















Um dia para a partida, um dia para a chegada 
                                                                Andrea Cristina Lopes


Era linda. Indiscutivelmente. Frankfurt era linda. Embora, na noite anterior, o vendaval tenha fechado o aeroporto e todos os voos sofrido atraso de duas horas e meia.

               Já era quase uma hora da manhã e a fila estava demasiado grande. Quase nenhum barulho era ouvido. Todos se falavam, aos pares, aos grupos, sempre em tom baixo.

               A companhia aérea demorou mais de uma hora até conseguir enviar todos os passageiros que haviam perdido suas conexões. Os alojamentos eram hotéis maravilhosos. Os táxis saiam em comboios. Impressão ou não, mas parecia que todos os indianos, simpáticos e sorridentes, haviam invadido a cidade em seus táxis aceleradíssimos pela pista quádrupla.

               O tempo passou. O dia chegou tão rapidamente. A última refeição. Alho, cebola, aroma de comida fresca se espalhando pelo ar. Não prevera que muito em breve se dissipariam todos os momentos. Era tempo.

               O óleo quente brilhava no taxo de aba alta. Era ágil o manusear das duas colheres que davam a forma aos bilharacos. Açúcar, canela, toque final. O perfume recendia por todo o andar.

               O azul do céu marcava um começo de primavera ainda com cara de verão. Muitas pessoas insistiam em fazer um percurso pela praia. Embora o sol se mantivesse explendoroso e a temperatura bastante elevada, a água do mar estava muito fria. Impossível permanecer muito tempo. Além de que ondas bravias beijavam a areia finíssima e muito alva.

               Sem sombra de dúvidas aquele seria o aniversário mais inusitado. Fazer anos longe de casa tinha lá suas surpresas, mas também tinha uma saudade nostálgica de um mundo em comum.

               Depois de perder a conexão Porto/Frankfurt, não havia mesmo outra saída a não ser passar a noite na Alemanhã. Algumas horas de sono e depois a necessidade de retornar ao aeroporto para remarcar os bilhetes para o primeiro voo. Provavelmente quase vinte e quatro horas depois.

               No saguão descomunal, vários grupos de pessoas, de muitos lugares, cada uma delas com suas próprias lembranças e as cabeças sobrecarregadas de pensamentos, coincidentemente uniram-se ao grupo de brasileiras à espera de seus novos voos. Uma delas, a Dirce, vinha direto da Itália para um casamento no Brasil, chegaria quase que na hora da cerimônia. Havia também um casal muito jovem regressando do Japão. Traziam uma filhinha que os pais dele ainda não conheciam. Com eles o pai da moça a esposa. Uma família inteira voltando ao lar.

               Tempo gasto ou, tempo não gasto em comum. E ao longo de várias horas, já haviam se tornado amigos de infância. Falavam sobre muitas coisas. Pensava, abstraída dos acontecimentos ao redor, em tudo que deixara. Pensava nos olhos que indagavam se iria mesmo embora. Para trás, o passado. À frente, familiares que a esperavam para uma surpresa de aniversário. Tinha receio das escolhas, temia o novo.

               Um oceano imenso entre as estrelas orientavam o caminho no céu. Aos poucos, se ia deixando para trás a alegria de um sonho construído. Não cria estar se distanciando tanto de todas as sementes plantadas. Momentos de partilhas, de riso fácil. Era o despertar de um tempo novo.

               A praça podia ser vista ao longo do dia pela janela, aliás por todas as janelas por onde se olhasse, se tinha a mesma cena: a praça, a igreja logo adiante e bem mais ao final da grande avenida o grande lago de água salgada de onde, por muito tempo, se retirara o sal. Parecia um lodo azul. Um lodo inacreditavelmente azul por onde algumas pessoas ainda andavam. Atolavam suas pernas até uma altura que ia até mais ou menos a metade das canelas. Turistas? Talvez...

               Sol alto, os sinos repicavam gemidas horas. Onze, doze e mais da metade do dia já havia se passado. Única forma de compensá-lo seria aproveitando ao máximo as horas ao longo da noite. Toques suaves. E de sonhos. Uma paz intensa era refletida nos olhares que se fizeram mágicos em tão breves momentos.

               Sonolenta, fechou os olhos. Recostou-se sobre a mala de mão. As pálpebras se fecharam. Adormecia, enfim.

               Sentiu-lhe a presença forte. Estaria novamente ao lado dele, pensou. Por alguns momentos foi possível levar ao passado, sua mente tão cansada, aturdida pela mudança brusca. Tudo foi como um dia de verão que arrefeceu rapidamente roubando de qualquer mão, toda e qualquer ação que se quisesse.

               As pessoas à sua volta eram ou simplesmente estavam alegres. Em pouco tempo já haviam se tornado velhos amigos de infância. Não se sabe de onde os anjos nos são soprados e nem até a que ponto podem interferir em nossas vidas. O olhar das inúmeras lojas de conveniências. Duty free. Eram um pouco mais caros que os próprios olhos da cara. Bicicletas trafegando pelos corredores do aeroporto, a esteira era quilométrica, os carros operados pelos funcionários. Algumas fotos, mas, as baterias já estavam quase zeradas.

               Afastou-se por alguns minutos. Ao lado, pessoas falavam nas mais diversas línguas. Um grupo enorme de japoneses, rumavam para o airbus com destino a Tóquio. Uma imensidão de sons que não se configuravam em significado algum para os ouvidos.

               Era enfim, meu dia de novos anos. Os novos amigos surpreenderam com um “muffin” que fora comprado ali mesmo. A vela de aniversário nada mais era de que um palito de fósforo aceso.

               Durante os parabéns, senti meu rosto enrubescer. Corei. Todos os presentes observaram o coro. Alguns, os que estavam mais de longe, bem próximos ao Portão quinze se arriscaram a algumas palmas ou, laçaram um pequeno sorriso. Outros, apenas acharam estranho aquele grupo que depois de mais de 24 horas entre voos, esperas e conexões, ainda encontrava ânimo para essa surpresa. Fui feliz.

               Meu coração estava totalmente em paz. Seguia meu rumo, embora sem sabê-lo qual seria. Sem saber o que o futuro me traria após sobrevoar o pacífico novamente. Alguma surpresa? Quem poderia saber ao certo? Aprendi lições de como amar acima de qualquer coisa. Com todo meu ser, com toda minha capacidade de ser. E que me fosse vindo tudo que o futuro se dignasse em me consentir. Estaria preparada.

               Desfazer as malas. Respirar. Recolocar cada objeto em seu lugar de direito e esperar que “se acertem as abóboras ao longo do balanço da carruagem”. Quando se tem a vida por uma dádiva, tudo que vier a mais, passa a ser um certo lucro. E desde que os dias se alonguem é possível fazer a vida mais bela.

               Que assim sempre seja, amém!


                                              

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terça-feira, 10 de abril de 2012

No verão, o amor



No verão, o amor



Balbucio mais uma vez a sua ida
novamente leva para longe o seu calor
nuance que por tantos dias soou-me vida
vida alegre, ousada de melodia e cor.

segue seu caminho já sem olhar para tras
não há dias para esperar, não lhe apraz ficar
é fato seguir, é caminho que ora satisfaz
deixa-me só esse frio, um ocre, um sem lugar.

Serão novos dias, ciclos e ciclos a recomeçar
serão folhas caídas e arvores tão sem vida
será do precoce inverno, o apenas balbuciar.

Segue então, óh entremeio, entre frio e flor
e pelas voltas das sublimes alegrias idas
sempre a esperar novamente o amor.





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segunda-feira, 2 de abril de 2012

Das despedidas




Das despedidas
                 Andrea Cristina Lopes

Não chorarei as lágrimas
De uma partida não ajustada...
Nem enevoarei meus olhos
Sob um acanhado aspecto
De quem se vai e não diz...

Ser feliz? Quimeras
Loucuras e instantes apenas
Não esperarei pelo que não conhece
Nem propriamente a si...
E já não colocarei meus sonhos
Em intenções descabidas
De vidas em espectro...

Não posso mais não ser eu
E preciso do meu próprio lugar
Sob os olhos do amor...
Sob as virtudes que há
No simples ato de amar...

Sendo assim, meu amado
Ignore-me as notas justapostas
Em estelares cantigas
Onde o infinito amor finito
Soava por todos os lugares
Conhecidos ou não
E explodia ... Em alegrias
De finais de tarde...
Perfazendo-se pelo espaço
Um imenso clarão...

...

E que sigam as almas
Quebrantadas
Por jamais encontrarem
À sua altura
Uma resposta plena
De satisfação...



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sexta-feira, 30 de março de 2012

Outra Vez


Outra vez

A noite encerra meus olhos
e meu fino cansaço esmorece
logo ao primeiro toque
do tão esperado
repouso.

E até que o dia chegue
em infindável recomeçar
serei passarinho apenas
sob a claridade lunar
em continuado pouso.





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terça-feira, 20 de março de 2012


Rotas lembranças
          Andrea Cristina Lopes


O tempo recompoe linhas
fios brandos,
amargos, doces
que se combinam
entre si

Unem, amarram
perfazer o que já não era
costuram, juntam
entre o aqui e o ali
em curva que desacelera

E nessa máquina ousada
que me acelera o fiar
quero, não quero
calo e grito
tanto me ultraja, o esperar

É uma corente que prende
Liberta-me de meus passos
dualmente macios
e alinhava-me o coração
com ternos
e indolores fios

E audaz
do tempo, então, lanço mão
Esse desgastado, roto
desperdiçado, poluto
onde cerzi toda minha 
recomeçável 
desconstrução



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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Pôr de Sol




♥♪ ⊱✿◕‿◕✿⊰♪♥♥♪ ⊱✿◕‿◕✿⊰♪♥

Pôr de Sol

                Andrea Cristina Lopes

Não seja apenas a música
com que me embalas,
um instrumento apenas,
pelo qual me define
à minha própria criação.

Sejas tu antes e sempre,
a própria melodia,
energia que me mantém viva
dando-me a cor e a chama
quando me chamas
para a tua musica alegria
...
o coração.

Andrea Cristina Lopes

♥♪ ⊱✿◕‿◕✿⊰♪♥♥♪ ⊱✿◕‿◕✿⊰♪♥Andrea Cristina


domingo, 11 de dezembro de 2011

Em tempo e lugar



Em tempo e lugar

                      Por Andrea Cristina Lopes

            O tempo não se lastima de nada que lhe tenha passado. Nossas labutas, ou por nossas noites nas quais não pudemos adormecer porque as lágrimas vinham maior ou, adormecíamos sem saber ao certo se quereríamos acordar com ele, o sol.

            Era tudo tão fatalmente conturbado e a cada dificuldade não sabíamos de onde nos viria a força para mais um dia.

            Finalmente, vencida a noite, os olhos estavam ressequidos pela falta de luz. A noite nos houvera furtado horas de tempo precioso e o viver era apenas uma seqüencia do que se havia pausado ante a escuridão.

           Eis que fielmente se olhava para o céu. Respingado de tantas e tantas estrelas que sem perceber, restaurava-nos a crença.

           Baixava-se então o olhar esguisso em sinal de uma mansidão que não se debela nunca. Em sinal de uma aceitação cuja proposta se equivaleria ao que de mais real se obtém.

           O que realmente contava é que os olhos já não olhavam mais. E se olhavam, atravessavam tão transparentes que alcançava rápido o horizonte manchado em cinza.

           Era tarde demais. Era tarde de inverno. Tarde para se voltar ao início, tarde para uma nova visão. Porque aquela a que se estava adiante, tomava-nos todo o olhar.

           Seria necessário deixar ir ao chão tudo que estivesse no lugar. E com a calma de uma estacão inteira, recolocar cada folha caída. Restabelecer á flor cada pétala jogada ao léo.

           Seria necessário avançar no tempo e reencontrar o ponto onde tudo houvera se deixado mudar.

           Um tempo novo se cria. E pontos se fazem. Elos entre as palavras. Estas que por si só possuem a significação de uma sentença.

           É preciso encontrar entre todas, a palavra que convença a não se deixar ir, a não se deixar morrer, a não deixar que o vento abale aquilo que se anseia. 



           E assim, ficar. 
           Apenas pelo simples fato de pertencer ao lugar. 
           Por si só, deixar-se ficar. 
           E ser. 



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sábado, 3 de dezembro de 2011

Ser novamente


Ser novamente


O dia acordou tão melhor hoje
o sol aquece o asfalto frio
leves sons de buzinas, ao longe
pessoas que seguem seus rumos
imparciais à minha vista.

Aos poucos a paz me chega
devolve-me o gosto e o olhar
e vejo tudo à minha volta
num simples ato de contemplar.

São sons de tijolos sendo assentados
tem força e trabalho suando o pão
bem no prédio ao lado
que se ergue alheio
ao que meus olhos vêm ou não
isso não é nenhuma condição
para que o tempo ande.

Gente sorri e fala pelos corredores
E bem ao longe
uma parte do céu se esconde
em meia janela
é primavera ainda
embora inverno insista em ser visto
já no quase verão.

A vida segue de forma normal
já não há tristeza alguma
só há uma imensidão
de dias pela frente
hoje encontro comigo mesma
e me aprecio
finalmente o espelho me prova
sou gente de novo.

Por Andrea Cristina Lopes



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O Vago da alma



O Vago da Alma



Esse vago que me toma o peito
E se expande dentro em mim
É a metade do que era o amor
Antes de dizimar-se
O amargor do fim.

Essa falta de ir adiante
Que nesse momento me impera
É só a falta dos passos dele
Que me eram juntos
Nos dias da primavera.

E essa falta de cor nos olhos
E esse ora olhar sem direção
É a ausência dos olhos dele
Cuja falta da luz
É-me tristeza e solidão.

Por Andrea Cristina Lopes




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terça-feira, 29 de novembro de 2011

A rua dos Ipês





A rua dos Ipês
              Andrea Cristina Lopes


         Naquela tarde vestiu-se e fitou-se no espelho. Gostou de sua imagem refletida.  Era um vestido branco com estampas leves, discretamente perceptíveis, chamava atenção pelo corte que deixava sua silhueta discretamente exposta, porém, bem longe de tender para vulgar.

         Desde que se mudara para a nova casa e firmara-se na nova vida, mantinha o hábito de sair às tardes. Era uma moça de origem simples e em momento algum seu comportamento havia se modificado após a grande mudança.

          Na rua, percebeu que certos olhares se dirigiam mais vorazes a ela. No entanto, mantinha com elegância seu andar tranquilo, nada a incomodaria naquela tarde em especial.

          Vestiu as sandálias de tiras com salto cinco, estava apropriada para a tarde. Era verão, o calor bastante intenso. Prendeu parte dos cabelos, realçou o batom na tonalidade cetim, pressionou por uma única vez a válvula do perfume, fragrância de corpo floral com toques cítricos e rosa branca.

            Massageou as mãos com um creme umectante. Apanhou a bolsa, virou-se como quem confere se tudo está em ordem e dirigiu-se até a porta.

          Estava tudo certo. Cada coisa estava em seu devido lugar. Sobre a mesa de centro um pêndulo de orquídeas se derramava. Eram minúsculas flores amarelas com o labelo um pouco mais escurecido. Parecia-se com uma chuva, uma chuva dourada. Sorriu com os olhos.

          Fechou a porta atrás de si e caminhou até a rua por uma espécie de passarela que conduzia para fora daquele mundo particular. O jardim era gramado e naquela semana muitas flores haviam desabrochado. Todas saudáveis e frescas. Chuva! Uma garoa leve e constante havia percorrido a noite alegrando à vida.

           Caminhou alguns passos. Abriu a bolsa, ajeitou o pequeno livro de capa marrom e apanhou um pequeno cartão que após observar por algum tempo, acenou chamando o táxi.

           O carro seguiu pelas alamedas. O barulho era suave, quase imperceptível. Ela, em silêncio, observava a paisagem. Tudo era lindo. A cidade toda estava envolta naquele amarelo. Os ipês sorriam e a luz do sol se intensificava por entre os poucos vãos onde as flores não alcançavam.

         _ É aqui! - Falou ele, o gentil senhor que conduzia o veículo, interrompendo os pensamentos dela. Imediatamente pararam e ela saltou procurando identificar no lugar algo de seu passado.

          Por entre azaleias, foi avançando até chegar ao centro da praça. Ali avistou o velho assento em semicírculo. Os ipês estavam dispostos em fileiras beirando a rua, sob a qual se estendia um tapete, não um tapete vermelho de boas vindas, mas, sim um vasto pano amarelo. Um dourado que fazia parte da sua infância.

     A conveniência fez com que parasse e pensasse por certo tempo. Que sentimento era esse que a faria ir até esse lugar. Certamente não estava em sua razão perfeita, mas, foi assim mesmo.  Aproximou-se. Viu que algumas crianças brincavam descontraídas sem perceber sua aproximação. Era fascinante estar ali de volta depois de tanto tempo.

            Andou alguns passos e sorveu o aroma dos ipês que floriam. Era como se o tempo voltasse. Lembrou-se das palavras escritas no bilhete: “te esperaria por toda a vida, mas não demore, minha vida é esperar por você”.

           Pensou que cada dia que passava era um dia a menos. Um dia a menos que passaria ao lado dele. Caminhou mais alguns passos. Estremeceu ao olhar entre o pequeno muro e as flores. Seus pensamentos voltaram ao lugar no passado, onde crianças brincavam sem perceber o futuro que para ela estaria vindo, paradoxalmente ao passado. O presente predizia que novas emoções estavam adentrando seu dia.

            Ele lançou em direção a ela um olhar curioso. Como quem duvida da visão que tem. E ainda parecia o mesmo menino que brincava e fazia estripulias roubando-lhe as sandálias e um beijo. Ela tentava alcançá-lo, mas, sempre perdia a corrida, então chorava até que o pequeno traquina devolvesse seus calçados. A brincadeira de esconde-esconde recomeçava e as brigam eram esquecidas.

           Aquela rua era diferente. As flores dos ipês formavam um tapete macio e úmido sob seus pés. Ele sorriu para ela com o mesmo sorriso de antes: "– vou me casar com você, você vai ver se não caso". Dizia. Ela fingia que ficava zangada, mas no fundo torcia para que os anjos dissessem amém.

          À troca de olhares, sorriram-se mutuamente, como quem precisa de um momento só para reconhecer seu passado. Ele estendeu-lhe a mão. Ela fez menção de tocá-la, mas, num gesto espontâneo abaixou-se. Desamarrou as sandálias, segurou-as com uma das mãos e lhe ofereceu a outra. Caminharam. Passos curtos, desapressados sobre o tapete, ela tinha os pés nus.

          Falaram-se. Olharam-se e riram tão cúmplices, que tudo parou para observá-los.

          Já não consegui mais ouvir o que era dito. Talvez, fosse segredo aos meus ouvidos. Suas sombras seguiram ao seu lado. Traquinas, ora se escondiam entre as paredes do muro antigo, ora só iam, os quatro.

           Andaram até o final da rua, onde meu olhar não mais os alcançava. Vi seus corpos diminuindo na descida até sumirem completamente.

           Apenas o céu rosáceo permaneceu se unindo as flores dispostas sob a rua. Seu efeito nesse momento, observei que era de um amarelo murcho deitado na calçada. O entardecer estava desprovido de som. O tempo permaneceu imparcial. E continuou simplesmente, em total e absoluto silêncio.
         
                             


                                                                    *** imagens google***

domingo, 27 de novembro de 2011

Longos dias



Longos dias

Por Andrea Cristina Lopes

Por vezes penso que apenas fechei os olhos
e que logo mais
a igreja repicará insistentemente
o sino das horas,
que o tempo não se deu
e que já é tempo de a tempestade findar.

Que ao abrirem-se as janelas dos meus sonhos
sob o som estridente chamando para dia,
em respingos de luz na cortina,
verei tudo igual, como sempre quis,
como sempre sonhei pelo infinto
em que se deu a crença.

E a verdade será o amor
o domínio e a permanencia do amor brando
sem tolices... sem quimeras
e sobretudo sem nenhuma demora
porque essa, arrasa aos dias
e amedronta deveras quando é noite
se a luz se armazena
em horas, horas e horas a fio...
de uma sempre inútil
e inquietante espera.





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quarta-feira, 23 de novembro de 2011



Fim

Por Andrea Cristina Lopes


Esvanece-me tua última imagem
Secam-me os olhos
Não sangram mais e,
Meu peito também,
Já não me dói tanto.

Singraram-me para longe as lembranças
Os dias da primavera
As asas pelo céu
Só restou o silencio de estrelas
Noite adentro.

Mas, ´inda vaga-me de teus olhos
O doce do passado encanto
Por trilhas dilapidadas
Quando o dia, da noite frágil
Incomplacente descolore o manto.





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