Enquanto te esperava
Nem vi que anoitecia
E adormeci
Adormeci na sutileza de sonhos
Que quase cri verdades...
Silenciosos eram os pássaros
Que de tão dormentes
Fecharam seus cantos
Então, embalei pensamentos
Aturdidos de estrelas
Longínquas... Cadentes.
Revi os dias do futuro
Sonhados dias
Doçuras, no entanto
Perdidas sobre a maciez
De relvas perfumadas
Azuis e rosáceas
Com o nuance da luz
Sobreposta
Sutil, esparramada.
...
Ah! Ensolaradas manhãs
Ainda sob orvalho
Precedendo o alto sol
Pleno de alegria!!!
Ah! Brilho de meus olhos
Estrada única
De lindos segredos
E magias...
Quem dera poder ser noite!!!
Quem dera poder ser dia!!!
Ao novo tudo pertence
...e o dia se acorda novo, o novo acena...
Apenas os pássaros emitem o mesmo canto
em desconformidade com o que ora se inicia.
...continuidade.
Nuvens prevalecem
o frescor das arvorem se lançam ao vento
o embalo convida á vida.
Tudo é novo.
Tudo é perfeito.
E nesse novo dia
tudo cabe.
Ao amanhã apenas
será pertinente o retorno
à vida antiga, de sempre
hoje, tudo é novo
como se fosse uma vez mais
a inauguração da vida.
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" RECEITA DE ANO NOVO
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."
Carlos Drummond de AndradeANDRADE, C. D. Receita de Ano Novo. Editora Record. 2008.
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