sexta-feira, 30 de março de 2012

Outra Vez


Outra vez

A noite encerra meus olhos
e meu fino cansaço esmorece
logo ao primeiro toque
do tão esperado
repouso.

E até que o dia chegue
em infindável recomeçar
serei passarinho apenas
sob a claridade lunar
em continuado pouso.





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terça-feira, 20 de março de 2012


Rotas lembranças
          Andrea Cristina Lopes


O tempo recompoe linhas
fios brandos,
amargos, doces
que se combinam
entre si

Unem, amarram
perfazer o que já não era
costuram, juntam
entre o aqui e o ali
em curva que desacelera

E nessa máquina ousada
que me acelera o fiar
quero, não quero
calo e grito
tanto me ultraja, o esperar

É uma corente que prende
Liberta-me de meus passos
dualmente macios
e alinhava-me o coração
com ternos
e indolores fios

E audaz
do tempo, então, lanço mão
Esse desgastado, roto
desperdiçado, poluto
onde cerzi toda minha 
recomeçável 
desconstrução



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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Pôr de Sol




♥♪ ⊱✿◕‿◕✿⊰♪♥♥♪ ⊱✿◕‿◕✿⊰♪♥

Pôr de Sol

                Andrea Cristina Lopes

Não seja apenas a música
com que me embalas,
um instrumento apenas,
pelo qual me define
à minha própria criação.

Sejas tu antes e sempre,
a própria melodia,
energia que me mantém viva
dando-me a cor e a chama
quando me chamas
para a tua musica alegria
...
o coração.

Andrea Cristina Lopes

♥♪ ⊱✿◕‿◕✿⊰♪♥♥♪ ⊱✿◕‿◕✿⊰♪♥Andrea Cristina


domingo, 11 de dezembro de 2011

Em tempo e lugar



Em tempo e lugar

                      Por Andrea Cristina Lopes

            O tempo não se lastima de nada que lhe tenha passado. Nossas labutas, ou por nossas noites nas quais não pudemos adormecer porque as lágrimas vinham maior ou, adormecíamos sem saber ao certo se quereríamos acordar com ele, o sol.

            Era tudo tão fatalmente conturbado e a cada dificuldade não sabíamos de onde nos viria a força para mais um dia.

            Finalmente, vencida a noite, os olhos estavam ressequidos pela falta de luz. A noite nos houvera furtado horas de tempo precioso e o viver era apenas uma seqüencia do que se havia pausado ante a escuridão.

           Eis que fielmente se olhava para o céu. Respingado de tantas e tantas estrelas que sem perceber, restaurava-nos a crença.

           Baixava-se então o olhar esguisso em sinal de uma mansidão que não se debela nunca. Em sinal de uma aceitação cuja proposta se equivaleria ao que de mais real se obtém.

           O que realmente contava é que os olhos já não olhavam mais. E se olhavam, atravessavam tão transparentes que alcançava rápido o horizonte manchado em cinza.

           Era tarde demais. Era tarde de inverno. Tarde para se voltar ao início, tarde para uma nova visão. Porque aquela a que se estava adiante, tomava-nos todo o olhar.

           Seria necessário deixar ir ao chão tudo que estivesse no lugar. E com a calma de uma estacão inteira, recolocar cada folha caída. Restabelecer á flor cada pétala jogada ao léo.

           Seria necessário avançar no tempo e reencontrar o ponto onde tudo houvera se deixado mudar.

           Um tempo novo se cria. E pontos se fazem. Elos entre as palavras. Estas que por si só possuem a significação de uma sentença.

           É preciso encontrar entre todas, a palavra que convença a não se deixar ir, a não se deixar morrer, a não deixar que o vento abale aquilo que se anseia. 



           E assim, ficar. 
           Apenas pelo simples fato de pertencer ao lugar. 
           Por si só, deixar-se ficar. 
           E ser. 



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sábado, 3 de dezembro de 2011

Ser novamente


Ser novamente


O dia acordou tão melhor hoje
o sol aquece o asfalto frio
leves sons de buzinas, ao longe
pessoas que seguem seus rumos
imparciais à minha vista.

Aos poucos a paz me chega
devolve-me o gosto e o olhar
e vejo tudo à minha volta
num simples ato de contemplar.

São sons de tijolos sendo assentados
tem força e trabalho suando o pão
bem no prédio ao lado
que se ergue alheio
ao que meus olhos vêm ou não
isso não é nenhuma condição
para que o tempo ande.

Gente sorri e fala pelos corredores
E bem ao longe
uma parte do céu se esconde
em meia janela
é primavera ainda
embora inverno insista em ser visto
já no quase verão.

A vida segue de forma normal
já não há tristeza alguma
só há uma imensidão
de dias pela frente
hoje encontro comigo mesma
e me aprecio
finalmente o espelho me prova
sou gente de novo.

Por Andrea Cristina Lopes



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O Vago da alma



O Vago da Alma



Esse vago que me toma o peito
E se expande dentro em mim
É a metade do que era o amor
Antes de dizimar-se
O amargor do fim.

Essa falta de ir adiante
Que nesse momento me impera
É só a falta dos passos dele
Que me eram juntos
Nos dias da primavera.

E essa falta de cor nos olhos
E esse ora olhar sem direção
É a ausência dos olhos dele
Cuja falta da luz
É-me tristeza e solidão.

Por Andrea Cristina Lopes




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terça-feira, 29 de novembro de 2011

A rua dos Ipês





A rua dos Ipês
              Andrea Cristina Lopes


         Naquela tarde vestiu-se e fitou-se no espelho. Gostou de sua imagem refletida.  Era um vestido branco com estampas leves, discretamente perceptíveis, chamava atenção pelo corte que deixava sua silhueta discretamente exposta, porém, bem longe de tender para vulgar.

         Desde que se mudara para a nova casa e firmara-se na nova vida, mantinha o hábito de sair às tardes. Era uma moça de origem simples e em momento algum seu comportamento havia se modificado após a grande mudança.

          Na rua, percebeu que certos olhares se dirigiam mais vorazes a ela. No entanto, mantinha com elegância seu andar tranquilo, nada a incomodaria naquela tarde em especial.

          Vestiu as sandálias de tiras com salto cinco, estava apropriada para a tarde. Era verão, o calor bastante intenso. Prendeu parte dos cabelos, realçou o batom na tonalidade cetim, pressionou por uma única vez a válvula do perfume, fragrância de corpo floral com toques cítricos e rosa branca.

            Massageou as mãos com um creme umectante. Apanhou a bolsa, virou-se como quem confere se tudo está em ordem e dirigiu-se até a porta.

          Estava tudo certo. Cada coisa estava em seu devido lugar. Sobre a mesa de centro um pêndulo de orquídeas se derramava. Eram minúsculas flores amarelas com o labelo um pouco mais escurecido. Parecia-se com uma chuva, uma chuva dourada. Sorriu com os olhos.

          Fechou a porta atrás de si e caminhou até a rua por uma espécie de passarela que conduzia para fora daquele mundo particular. O jardim era gramado e naquela semana muitas flores haviam desabrochado. Todas saudáveis e frescas. Chuva! Uma garoa leve e constante havia percorrido a noite alegrando à vida.

           Caminhou alguns passos. Abriu a bolsa, ajeitou o pequeno livro de capa marrom e apanhou um pequeno cartão que após observar por algum tempo, acenou chamando o táxi.

           O carro seguiu pelas alamedas. O barulho era suave, quase imperceptível. Ela, em silêncio, observava a paisagem. Tudo era lindo. A cidade toda estava envolta naquele amarelo. Os ipês sorriam e a luz do sol se intensificava por entre os poucos vãos onde as flores não alcançavam.

         _ É aqui! - Falou ele, o gentil senhor que conduzia o veículo, interrompendo os pensamentos dela. Imediatamente pararam e ela saltou procurando identificar no lugar algo de seu passado.

          Por entre azaleias, foi avançando até chegar ao centro da praça. Ali avistou o velho assento em semicírculo. Os ipês estavam dispostos em fileiras beirando a rua, sob a qual se estendia um tapete, não um tapete vermelho de boas vindas, mas, sim um vasto pano amarelo. Um dourado que fazia parte da sua infância.

     A conveniência fez com que parasse e pensasse por certo tempo. Que sentimento era esse que a faria ir até esse lugar. Certamente não estava em sua razão perfeita, mas, foi assim mesmo.  Aproximou-se. Viu que algumas crianças brincavam descontraídas sem perceber sua aproximação. Era fascinante estar ali de volta depois de tanto tempo.

            Andou alguns passos e sorveu o aroma dos ipês que floriam. Era como se o tempo voltasse. Lembrou-se das palavras escritas no bilhete: “te esperaria por toda a vida, mas não demore, minha vida é esperar por você”.

           Pensou que cada dia que passava era um dia a menos. Um dia a menos que passaria ao lado dele. Caminhou mais alguns passos. Estremeceu ao olhar entre o pequeno muro e as flores. Seus pensamentos voltaram ao lugar no passado, onde crianças brincavam sem perceber o futuro que para ela estaria vindo, paradoxalmente ao passado. O presente predizia que novas emoções estavam adentrando seu dia.

            Ele lançou em direção a ela um olhar curioso. Como quem duvida da visão que tem. E ainda parecia o mesmo menino que brincava e fazia estripulias roubando-lhe as sandálias e um beijo. Ela tentava alcançá-lo, mas, sempre perdia a corrida, então chorava até que o pequeno traquina devolvesse seus calçados. A brincadeira de esconde-esconde recomeçava e as brigam eram esquecidas.

           Aquela rua era diferente. As flores dos ipês formavam um tapete macio e úmido sob seus pés. Ele sorriu para ela com o mesmo sorriso de antes: "– vou me casar com você, você vai ver se não caso". Dizia. Ela fingia que ficava zangada, mas no fundo torcia para que os anjos dissessem amém.

          À troca de olhares, sorriram-se mutuamente, como quem precisa de um momento só para reconhecer seu passado. Ele estendeu-lhe a mão. Ela fez menção de tocá-la, mas, num gesto espontâneo abaixou-se. Desamarrou as sandálias, segurou-as com uma das mãos e lhe ofereceu a outra. Caminharam. Passos curtos, desapressados sobre o tapete, ela tinha os pés nus.

          Falaram-se. Olharam-se e riram tão cúmplices, que tudo parou para observá-los.

          Já não consegui mais ouvir o que era dito. Talvez, fosse segredo aos meus ouvidos. Suas sombras seguiram ao seu lado. Traquinas, ora se escondiam entre as paredes do muro antigo, ora só iam, os quatro.

           Andaram até o final da rua, onde meu olhar não mais os alcançava. Vi seus corpos diminuindo na descida até sumirem completamente.

           Apenas o céu rosáceo permaneceu se unindo as flores dispostas sob a rua. Seu efeito nesse momento, observei que era de um amarelo murcho deitado na calçada. O entardecer estava desprovido de som. O tempo permaneceu imparcial. E continuou simplesmente, em total e absoluto silêncio.
         
                             


                                                                    *** imagens google***

domingo, 27 de novembro de 2011

Longos dias



Longos dias

Por Andrea Cristina Lopes

Por vezes penso que apenas fechei os olhos
e que logo mais
a igreja repicará insistentemente
o sino das horas,
que o tempo não se deu
e que já é tempo de a tempestade findar.

Que ao abrirem-se as janelas dos meus sonhos
sob o som estridente chamando para dia,
em respingos de luz na cortina,
verei tudo igual, como sempre quis,
como sempre sonhei pelo infinto
em que se deu a crença.

E a verdade será o amor
o domínio e a permanencia do amor brando
sem tolices... sem quimeras
e sobretudo sem nenhuma demora
porque essa, arrasa aos dias
e amedronta deveras quando é noite
se a luz se armazena
em horas, horas e horas a fio...
de uma sempre inútil
e inquietante espera.





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